sábado, 29 de agosto de 2009

imprimindo idéias

 Será que todo mundo já me viu?
 Sou um passarinho pequenininho,muito pequeno mesmo.Tenho um bico enorme,fininho,comprido,parecendo uma agulha.É isso mesmo: igualzinho a uma agulha.Enorme,fininha,comprida.
 Eu fico beijando as flores com esse bicão.
 Cada vez que eu beijo uma flor,não estou só beijando,não.Estou almoçando também,ou jantando.A comida está lá dentro da flor.Ela atravessa aquele bicão todo e depois chega na minha barriga.
 Ele vivia tentando me pegar pra poder ver o meu jeito,o meu bico,as minhas penas,os meus peizinhos,tudo bem de perto,mas não tinha jeito.Era só ele ir chegando com a mão e eu voava para outra flor.Ele corria o jardim inteiro e não adiantava nada.Ele ficava cansado,com sede,com fome,a roupa toda suja de cair em cima dos canteiros e nada
            [...]
 Até que um dia entrei no quarto do tio do menino.[...]Ah,disse o menino.Ele se sentia aliviado, pois eu estava   lá,sem perigo de sumir,sem jeito de fugir,batendo o peito na vidraça.Dessa vez ele ia fechar a mão comigo dentro.Ele chmava:
-Vem cá beija-flor,vem,eu quero te ver aqui,de pertinho,juntinho,pertinho de mim.Vem cá,vem cá...
 Eu continuava lá,quietinho,sem ligar pra ninguém,no alto daquela vidraça enorme.
        [...]
 Ele ficou sozinho no quarto,pensando em mim lá no alto daquela vidraça enorme.
 Ele ficou conversando comigo,baichinho,quase chorando:
-Vem cá,meu beija-florzinho,eu quero te conhecer de perto,te encostar na minha cara,te ver,te olhar.Depois eu te solto,juro que te solto.Olha,sabe de uma coisa?Eu te solto na flor que você gostar de beijar.É só você me contar qual é.[...]Me conta,é a margarida?Ou é a rosa?Pode falar,eute solto lá,te prometo,te juro.
    [...]
 Enquanto conversava comigo,eleteve uma idia ótima a melhor dos seus seis anos.Pensou tudo depressa e fez mais depressa ainda,correndo,voando,o coração batendo forte,as pernas tremendo.Ele sabia,tinha certeza:eu não ia escapar.
 Fez tudo correndo ,voando,e ficou esperando,parado,uma,duas,três horas.[...]Não conversou mais comigo.[...]Ficou quietinho,em silencio.Começou a ficar de noite,escuro.Não desanimou.
 Quando seu tio entrou no quarto,[...] começou a rir.Dele e da idéia,dos seus seis anos.
 -Juá,o que é isso?Você ficou maluco?Aqui no escuro ,desse jeito?
 Mesmo o menino pensando que o maluco era o tio,explicou:
-Ah,nós fizemos tudo,não fizemos?Você não conseguia alcançar nem a metade da janela; tia Celeste jogou a toalha,gritou,cantou,não adiantou nada.Marisinha pulou até não aguentar mais.[...]Ele falou alto comigo,falou baixo,pediu,chorou,cantou,prometeu a flor mais bonita do jardim,a mais cheirosa,prometeu tudo.Eu ia?Não ia.Então teve essa idéia.
 Ele ia falando,falando e o seu tio nem ouvia direito.Continuava rindo.
 Ele não conseguia entender o motivo de tanto riso.Não estava fazendo nada de mais. Estava só quieto,de pé,em cima da cama,o braço levantadoo mais que podia.Segurando uma flor.Uma flor de cabo bem comprido,pra chegar mais perto de mim.Ele pensava,quase chorando:"Será que ele vem? Acho que vem, essa flor é tão bonita! Não, acho que ele não vem, ele nem me olhou. Nem uma vez".
     [...]
- Que pena eu não poder deixar que um adimirador meu não possa me ver de perto, o meu jeito, o meu bico. Acho que ele vai ter de gostar de mim assim de longe.





        Aluno: Rodrigo José Melo Pereira

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