sexta-feira, 28 de agosto de 2009

beija-flor


Será que todo o mundo já viu um beija-flor? 
Eu sou um passarinho  pequenininho, muito pequenininho mesmo.tenho um bico enorme,fininho,comprido,parecendo uma agulha.É isso mesmo:igualzinho a uma agulha.Enorme,fininha,comprida. 
Eu fico beijando as flores com esse bicão.
Cada vez que eu beija-flor beijo uma flor não estou só beijando,não.Estou almoçando também, ou jantando.A comida está lá dentro da flor .Ela atravessa aquele bicão e depois chega na minha barriga.
Ele vivia querendo me pegar.
Até que um dia eu entrei no quarto do tio do menino, então o menino disse ate que em fim chegou a minha chance de pegar um beija-flor e agora sem perigo de sumir.
Dessa vez o menino ia consseguirfeichar as mãos comigo lá dentro. Eu chamava:
- Vem cá, beija-flor, vem eu quero te ver aqui, de pertinho, juntinho, pertinho de mim. Vem cá, vem cá...
Ele continuava lá, quietinho, nem ligando pra ninguém, no alto daquela vidraça enorme.
[...]
Fiquei sozinho no quarto, pensando no beija-flor lá no alto daquela vidraça enorme.
Fiquei conversando com ele baixinho, quase chorando:
- vem cá, meu beija-florzinho, eu quero te conhecer de perto, te encostar na minha cara, te ver, te olhar. Depois eu te solto, juro que te solto. Olha, sabe de uma coisa? Eu te encosto na flor que você gosta mais de beijar. É só você me contar qual é. [...]Me conta, é a margarida? Ou a rosa? Pode falar, eu te solto lá, te prometo, te juro.
[...]
Enquanto o menino conversava comigo, o menino teve uma idéia. Uma idéia ótima, a melhor dos meus seis anos. Pensei tudo de pressa e fiz tudo mais de pressa ainda, correndo, voando, o coração batendo forte, as pernas tremendo. Eu sabia tinha certeza: o beija-flor não ia escapar.
Fiz tudo correndo,voando, e fiquei esperando,parado,uma,duas,três horas.[...] Não conversei mais com ele .[...] Fiquei quietinho, em silêncio.Começou a ficar de noite,escuro.não desanimei.
Quando o  tio do menino entrou no quarto. [...] começou a rir. Do menino e da idéia,a melhor dos seis anos do menino.
Juá, o que é isso? Você ficou maluco? Aqui no escuro, desse jeito?
Mesmo pensando que o maluco era ele, expliquei:
Ah nós fizemos tudo não fizemos? Você não conseguia alcançar nem a metade da janela; tia celeste jogou a toalha ,gritou,cantou,não adiantou nada.
Marisinha pulou até não agüentar mais. [...] Falei auto com ele, falei baixo ,pedi, chorei,cantei. prometi a flor mais bonita do jardim, a mais cheirosa, prometi tudo.
Ele veio? Não veio. Então o menino teve essa idéia.
Eu ia falando, falando e meu tio nem me ouvia direito. Continuava rindo. Eu não conseguia entender o motivo de tanto riso. Não estava fazendo nada de mais. Estava só quieto. De pé, em cima da cama, o braço levantado o mais que podia. Segurando uma                flor. Uma flor de cabo bem comprido, para chegar mais perto do beija-flor. Eu pensava quase chorando: “Será que ele vem? Acho que vem, essa flor e tão bonita! Não acho que não vem, ele nem me olhou. Nem uma vez”.
[...]
Sozinho, no escuro, em pé, o braço doendo de tanto segurar a flor, continuei pensando, quase chorando: “ Como é que um beija-flor pode atrapalhar uma idéia tão boa? Será que vou ter de gostar dele só assim, lá no alto, longe de mim?”                  

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