quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Desmatamento

Estudo aponta a desertificação no Nordeste e a seca como conseqüências do aquecimento global.
01/09/2006 - 09h38min

CORREIOBRAZILIENSE
A-22

BRASÍLIA, QUINTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2006

MEIO AMBIENTE
Estudo aponta a desertificação no Nordeste e a seca como conseqüências do aquecimento global. Fenômenos são provocados pelo desmatamento

O impacto da ação do homem
HÉRCULES BARROS
DA EQUIPE DO CORREIO

O clima esquentou no planeta e a situação pode piorar se não diminuírem as agressões contra a natureza. Nos últimos 100 anos, a temperatura mundial já subiu 0,7 graus Celsius. E o Brasil já convive com as conseqüências do aquecimento global. Secas, enchentes e ciclones provocam destruição de Norte a Sul do país. Mas, além de vítima, o país ocupa o quarto lugar no ranking dos países que mais emitem gases de efeito estufa no mundo. O desmatamento na Amazônia é apontado como o grande vilão. As queimadas no Norte são responsáveis por cerca de 2% da mudança do clima no planeta e representam em torno de 75% da contribuição para a alteração do tempo no Brasil.
As conseqüências do aquecimento estão na desertificação crescente no semi-árido nordestino, na elevação do nível do mar e na estiagem no Sul e no Norte.

As previsões nada agradáveis são da organização não-governamental (ONG) Greenpeace. Em relatório apresentado ontem, em Brasília, a ONG ambientalista afirma que o país deveria ter seguido a “trilha da descabornização”, mas optou pelo incentivo ao agronegócio. Para a ONG, o país investe pouco em energia renovável, apesar de 90% da produção energética no país ser a partir de usinas hidrelétricas.
Para traçar o impacto do aquecimento global e as principais vulnerabilidades regionais, o Greenpeace percorreu o Brasil de Norte a Sul e documentou os principais fenômenos.

O levantamento enumera o que pode acontecer se o país não mudar o rumo e traz dicas do que deve ser feito por cada cidadão. “Temos que consumir menos, usar mais o transporte coletivo e economizar energia e água”, adverte o coordenador da campanha de clima do Greenpeace, Carlos Rittl. O ambientalista reconhece que existem iniciativas do governo para preservar o meio ambiente, mas o fomento ao agronegócio avança sobre a floresta. “Devido a esta contradição, ainda temos taxas altíssimas de desmatamento”,
afirma.
Para o diretor do Programa de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Góes, o avanço do agronegócio ocorre em todas as nações. Não só no Brasil. Ele ressalta que o papel do Estado é regular. “O governo tem feito sua parte. Não se faz combate ao desmatamento de um dia para o outro. Registramos queda em 2005 e a tendência para 2006 é a mesma”, rebate.

Fenômeno
De acordo com o Greenpeace, a queda no desmatamento não é significativa. Entre 2002 e 2004, os índices registraram aumento —de 24 mil quilômetros quadrados destruídos para 27 mil — para depois terem uma redução.
Segundo Rittl, os fenômenos recorrentes da destruição da floresta também não ficam para trás. “A seca na Amazônia, no ano passado, foi a segunda maior da história do estado”, lembra. No Sul, o gaúcho Cleu Ferreira, 42 anos, diz que depois de sentirem na pele as conseqüências da estiagem, os agricultores da região estão se mobilizando.
“Nos últimos seis anos, a estiagem só tem aumentado”, afirma. Segundo o agricultor, no ano passado, os pequenos produtores rurais perderam 75% da safra de milho e 95% do que foi plantado de feijão por causa da seca.

Ferreira é representante da União das Associações Comunitárias de Interior de Canguçu (Unaic).
A instituição tenta identificar alternativas sustentáveis para a produção rural. São mais de 4,5 mil famílias de 28 municípios organizados em 37 associações.
“Os agricultores começam a se mobilizar porque perderam as plantações e a mata nativa não tem resistido à seca”, afirma.
Para o geógrafo Francisco Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fenômeno não é novo, mas a detecção é recente e, agora, mais fácil de ser percebida.
“O reflexo do problema na agricultura é apenas um dos fatores negativos do quadro de interferência do aquecimento global no Brasil.” Especialista em neve e gelo, Aquino afirma que as geleiras da Antártica estão diminuindo com o aquecimento de 3 graus Celsius na região e tem provocado uma mudança na rota dos ventos extratropicais.
Esta seria uma das explicações da força do furacão Catarina, em 2004, que matou 11 pessoas no Sul do país. Apenas em Santa Catarina, mais de 32 mil casas foram danificadas, com prejuízo de mais de R$ 1 bilhão.

Rastros da destruição pelo país
O aumento da temperatura no Brasil já deixa rastros por todas as regiões do país e revela um quadro preocupante. Na Amazônia, o desmatamento e as queimadas lançam anualmente mais de 200 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. A conseqüência é que as estiagens são cada vez mais intensas. Este processo pode levar à savanização da floresta. O alerta é do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De janeiro a abril de 2005, as chuvas ficaram entre 30% a 50% abaixo do normal no Acre, em Rondônia e no sul do Pará e do Amazonas. Em julho, a redução chegou a 65%. Se chuva farta é fenômeno raro no Nordeste, com o aumento da temperatura no planeta as precipitações pluviais no semi-árido diminuem ainda mais. É o que prevê o estudo do Greenpeace. Pelas previsões da ONG, o sertão pode virar deserto até o final do século 21. A maior parte dos estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e do Espírito Santo seria afetada. As previsões são ainda mais catastróficas para o litoral, que se tornará propício à formação de ciclones. Segundo o relatório, 42 milhões de moradores serão atingidos pelo aumento do nível do mar nas próximas décadas. Furacões podem aparecer em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. (HB)

Previsões para o brasil com o aquecimento Global
Amazônia
As temperaturas na Amazônia aumentarão entre 2 e 3 graus Celsius. O clima fica mais seco, com redução de chuvas entre 10% a 20%. Com o avanço da fronteira agrícola e da indústria madeireira, o nível atual de cobertura florestal vai diminuir dos atuais 5,3 milhões de quilômetros quadrados (85% da área original) para 3,2 milhões de quilômetros quadrados (53% da cobertura original).
O que precisa ser feito:
Proibir o avanço da fronteira agrícola em áreas de floresta e realizar zoneamento ecológico econômico de uso da terra para toda a Amazônia.

Semi-árido
As temperaturas podem aumentar de 2 a 5 graus Celsius no Nordeste até o final do século 21. A caatinga dará lugar a uma vegetação mais árida. O desmatamento na Amazônia pode deixar a região mais seca.
O que precisa ser feito:
proteger as áreas de caatinga em unidades de conservação.

Zona Costeira
O nível do mar vai subir entre 30 e 80 centímetros nos próximos 50 anos. Construções a beira mar vão desaparecer. Furacões poderão atingir a extensa costa brasileira.
O que precisa ser feito:
Desenvolver amplo planejamento urbano para prevenir e adaptar as cidades às mudanças provocadas pela elevação do nível do mar.

Região Sul
Os extremos de temperatura no verão e inverno podem inviabilizar a produção de grãos. Chuvas intensas vão castigar as cidades.
O que precisa ser feito:
Adaptar o calendário agrícola às alterações climáticas já observadas na região.

Agricultura
As lavouras de grãos tendem a migrar par ao Centro-Oeste e o Norte, e culturas perenes, como o café e a laranja, para o Sul do Brasil.
O que precisa ser feito:
Adaptar o zoneamento agrícola às alterações climáticas e monitorar fenômenos extremos para planejamento e plantio.

RECURSOS HÍDRICOS
A geração de energia ficará comprometida com a falta de chuvas em algumas regiões. A diminuição de vazão nos rios vai limitar a diluição de esgotos.
O que precisa ser feito:
Recursos hídricos – abandonar projetos de usinas hidrelétricas que prejudiquem a vazão dos rios e causem impacto ambiental.

GRANDES CIDADES
Ficarão mais quentes e mais suscetíveis a inundações, enchentes e desmoronamentos em áreas de risco.
O que precisa ser feito:
Implantar sistema de transporte coletivo integrado a outros meios de transporte para desestimular o uso diário de automóvel.

SAÚDE
As doenças infecciosas transmissíveis vão aumentar. A dengue e a malária podem se alastrar pelo país.
O que precisa ser feito:
Criar sistemas e programas de informação à população para permitir a ação preventiva diante de eventos climáticos extremos com mapeamento de vulnerabilidade, planos de contingência, além de sistema de vigilância epidemiológica e ambiental.

Fonte: Organização Não-Governamental Greenpeace.

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